O presidente americano, Donald Trump, anuncia um aumento após ao outro nas tarifas de importação dos Estados Unidos. Se o Brasil e outros países não atenderem às suas exigências até o final de julho, as tarifas aumentarão em dezenas de pontos percentuais. Além disto, a tarifa base será elevada para 15% ou 20%. Isso resultará no maior ataque ao livre comércio em cem anos.
O primeiro mandato de Trump e os primeiros meses do segundo mostram que sua estratégia de chantagem surte efeito. Vários países, incluindo México, Canadá e Coréia do Sul, atenderam às suas exigências. Eles sabiam que retaliar, aumentando proporcionalmente suas tarifas de importação sobre produtos americanos, causaria menos danos a economia americana do que à própria economia. Isto porque a contribuição das exportações para os EUA de cada um destes países para o próprio PIB é maior do que a contribuição das exportações americanas para o PIB americano. No caso do México a contribuição das exportações para os EUA ao PIB mexicano é quinze vezes maior do que vice-versa. É esta vantagem que a maior economia do mundo tem em guerras comerciais bilaterais. Ou nas palavras do Trump: “eles precisam mais de nós do que nós precisamos deles”.
O que o resto do mundo pode fazer para conseguir com que Trump pare com sua guerra comercial? A ideia de que negociar com EUA e ceder parcialmente às exigências de Trump garantirá que o país deixe de ser alvo, já fez muitos países entrarem em negociações bilaterais. Mas esta ideia está em desacordo com a experiência do Canadá e do México. Durante o primeiro mandato de Trump, eles aceitaram transformar o acordo NAFTA em um novo acordo mais favorável aos EUA. No entanto, no início de seu segundo mandato, Trump, sem escrúpulos, apresentou novas exigências sob ameaça de aumento de tarifas.
Os países que agora estão na mira de Trump fariam bem se seguissem a sugestão do presidente brasileiro, Lula, e agissem em conjunto contra as práticas de chantagem de Trump. Medidas retaliatórias sob a forma de aumentos proporcionais nas tarifas de importação sobre produtos americanos serão eficazes se suficiente países afetados as implementarem, porque nesse caso os papéis se inverteriam.
As exportações do resto do mundo para os EUA representam ‘apenas’ 4% de PIB conjunto deles, enquanto as exportações dos EUA para o resto do mundo respondem por 8% do PIB americano. Então, se o comércio mútuo fosse completamente interrompido devido ao aumento das tarifas de ambos os lados, a economia dos EUA sofreria duas vezes mais do que a economia do resto do mundo combinado!
Para se ter uma visão completa das consequências de uma guerra commercial entre EUA e o resto do mundo é preciso também considerar o aumento da produção interna que poderá substituir as importações. Esse crescimento da produção geraria, nos Estados Unidos, uma contribuição maior para o PIB do que no resto do mundo. Mas até a indústria americana aumentar sua capacidade de produção o suficiente para poder substituir as importações pelos productos americanos, a economia americana já teria sofrido bastante. É este sofrimento econômico que pode fazer Trump parar com sua guerra comercial.
Atuar em conjunto com todos os países do mundo contra Trump exige muita coordenação mútua — talvez até demais. Mas se o Brasil unir forças com a China, a União Europeia, o Japão, a Índia, o México e o Canadá, suas economias combinadas serão duas vezes maior do que a dos Estados Unidos, o que lhes daria uma posição forte em negociações com os EUA.
Se não houver países suficientes que queiram adotar medidas de retaliação proporcionais, Trump continuará com suas guerras comerciais bilaterais. O resultado não será apenas preços mais altos para os consumidores e deslocamentos ineficientes de empresas para os EUA. O mundo também entrará em uma situação em que Trump, sempre que quiser, usará o instrumento tarifário para impor qualquer vontade sua.
Artigo escrito por:
Raoul Leering – macro- economista holandês